08 janeiro 2008

A Vontade de Comunicar

Desde muito cedo a criança começa a tentar comunicar com os que lhe são mais próximos, e a tentar expressar as suas ideias para que os seus diversos intentos sejam compreendidos, e se possível atendidos. Desde logo, com os primeiros balbuciares típicos dos bebés, as crianças demonstram sinais de interacção com o adulto que a rodeia; sorri e palra quando está feliz, chora, resmunga e grita sempre que algo não está bem. A linguagem gestual é um recurso comunicativo que muitas crianças utilizam, pois é o principal apoio daquelas que ainda possuem um léxico muito limitado. A tensão dos seus músculos, as suas cóleras, os seus gritos, as suas lágrimas, o seu sorriso, o seu olhar, os seus gestos, a sua postura corporal, a sua mímica, constituem decerto fortes mensagens às quais os pais tentarão concerteza dar resposta. Então é importante que se refira a importância que a linguagem gestual tem no desenvolvimento da criança: na sua capacidade de comunicar, de se expressar e obter satisfação dos seus desejos e necessidades quando ainda não “domina a palavra”. Os pais/educadores são como que o elo de compreensão entre o que a criança representa gestualmente e o que realmente elas pretendem, pois quem melhor do que eles para conhecer e compreender o filho (ou educando). Quando uma criança sente que os pais ou educadores estão a dar-lhe atenção e a tentar entendê-la, esta criança terá um maior sentimento de confiança, e alargará consequentemente os próprios laços de afecto com estes. Após passar a simples linguagem gestual (pois esta é usada eternamente por todos nós em consonância com a linguagem falada) os pais e os educadores, ou quem está diariamente com a criança, têm um papel fundamental nas restantes aprendizagens de comunicação, quer a linguagem falada, quer a linguagem escrita.

Piaget, considera que a linguagem falada apresenta três consequências essenciais do desenvolvimento mental: a socialização da acção, ou seja, a possibilidade que a criança tem em verbalizar com outras pessoas; a internalização da palavra que se prende com o aparecimento do pensamento propriamente dito, confirmado pela linguagem interna e por um sistema de signos; e por ultimo a internalização da acção, a qual mais do que ser puramente preceptiva e motora, será agora uma representação intuitiva por meio de imagens e experiências mentais.
A aquisição da linguagem falada é um processo que se dá naturalmente, sem “ensinamentos” formais, contínuo e gradual e é de extrema importância para o desenvolvimento global da criança, assim como é importante no seu desempenho na escola e na própria comunidade. Na aquisição da linguagem falada os pais são detentores de uma verdadeira responsabilidade, pois cabe primeiramente a estes a “obrigação” de estimular a sua criança, sem a apressar ou tecer-lhe criticas que não sejam construtivas. Os pais que demonstrem demasiada ansiedade face às primeiras palavras dos seus filhos, e que os corrijam incessantemente, mesmo quando vêem que as crianças ainda não dominam na perfeição este tipo de linguagem, irão criar-lhes sentimentos de “não ser capaz” o que pode levar a uma regressão ou estagnação na aprendizagem da linguagem falada, podendo até levar a uma inibição que se prolongue por outros campos de aprendizagem. Então deverão ser os pais os primeiros a dar tempo para que se dê uma evolução nesta aprendizagem, sem pressionar as crianças. Deverá também ter-se em conta que para o desenvolvimento harmonioso da linguagem é necessária uma integridade anatómica e funcional de todos os órgãos que fazem parte tanto do processo de recepção como do de emissão. Basta uma malformação ou uma lesão de um desses órgãos para a criança ter dificuldades. Em caso de haver qualquer problema com a criança, cabe aos pais, criar um certo envolvimento de cooperação e diálogo entre os que contactam com essa criança, nomeadamente com a/o educador caso a criança já frequente alguma creche ou jardim-de-infância, podendo desta forma responder de forma mais ajustada ao problema apresentado por esta criança. Por último, e para que se perceba a importância dos pais e da escola no desenvolvimento global da linguagem, aparece a linguagem escrita. Embora possa parecer descabido ou até pretensioso da minha parte, a linguagem escrita está presente desde a mais tenra idade. Desde muito cedo a criança convive em casa com o código escrito: quando a mãe lê na lata as instruções de preparação do leite, quando ao mãe ou o pai consultam a agenda ou a lista telefónica, quando o avô lê a revista ou o jornal. Na escola mais uma vez a criança tem contacto com o código escrito sempre que a professora lê uma história, por exemplo. Cabe aos pais mais uma vez em consonância com a creche ou jardim de infância, caso a criança frequente, proporcionar de um modo natural, funcional, lúdico e afectivo, imensas situações de contacto com a linguagem escrita (livros, revistas, placares com informações, folhetos, etc.. Há pois, uma grande familiarização com o código escrito que decerto influencia a criança motivando-a para um dia aprender a ler e a escrever.